Venture Capital, Venture Builder, Venture Debt, Joint Venture… Para quem não está familiarizado com o ambiente de tecnologia, chama atenção a frequência que o termo é utilizado. Mas afinal, o que significa Venture?
Nos últimos anos surgiram várias manchetes como essas:
Embora essas manchetes aparentem sucesso certo para o ambiente de tecnologia, dados agregados pela Startup Genome em 2019 demonstram que 11 de cada 12 startups no mundo fracassam. Para os investidores, entre 30 e 40% das operações não retornam sequer o investimento inicial (quando comparamos com empresas tradicionais nos Estados Unidos, apenas 5 de cada 10 empresas fracassam até seu 5º ano de existência). As empresas de tecnologia representam, dessa maneira, um risco altíssimo para os empresários e seus investidores.
Na tradução literal do inglês para o português, Venture significa Risco. Justamente pelos dados apresentados anteriormente, quando vemos esse termo sendo usado no ambiente de investimento em empresas, estamos nos referindo aos que são realizados em empresas de tecnologia/inovação.
Entendendo a origem do termo, vamos analisar algumas das aplicações no cotidiano do mercado financeiro:
Venture Capital
O formato mais tradicional e conhecido de investimentos em empresas de tecnologia é o Venture Capital (VC). Nesse modelo o investidor empresta recursos para uma empresa em troca de uma participação no capital social da companhia (também chamado de ‘equity‘).
O foco principal de empresas inovadoras é crescer e dominar um mercado através de investimentos constantes (em produto, tecnologia, comercial, aquisições…). Então o resultado dos acionistas não ocorre necessariamente através de uma distribuição de lucros/dividendos como normalmente observamos em empresas tradicionais. Nesse sentido, os investidores que investem em troca de participação, esperam ser remunerados através da valorização da companhia, para que possam vender no futuro sua parte por preços superiores.
Esse processo de investimento apresenta alguns desafios. De um lado o empresário deseja vender as partes de sua empresa pelo maior valor possível, de outro o investidor deseja controlar seu risco e validar premissas antes de aportar todo o capital que a companhia necessitará no decorrer de sua existência.
Esses são alguns dos motivos pelo qual as captações são segmentadas em rodadas (também conhecido como staged financing), o empresário consegue vender parcelas por valores cada vez maiores a cada rodada e o investidor consegue analisar melhor os riscos que está se expondo a cada momento.
Venture Debt
Da mesma forma como uma empresa tradicional pode realizar investimento com dinheiro dos sócios ou de credores (via empréstimos/financiamentos), as empresas de tecnologia têm as mesmas opções.
Tradicionalmente quando um banco analisa se emprestará dinheiro para uma empresa, ele procura observar 3 principais aspectos:
- Longo histórico, para observar a consistência passada como base para o futuro;
- Margens de lucro, entendendo a geração de caixa para pagar as prestações; e
- Presença de Garantias reais, como imóveis ou automóveis, que possam ser tomados caso o cliente não honre seus pagamentos.
As empresas de tecnologia, porém, normalmente:
- São recentes, por vezes com menos de 36 meses;
- Não tem lucro nem geração de caixa, pois reinvestem qualquer resultado e gastam recursos constantes para garantir crescimento; e
- Direcionam todo seu capital para produto, tecnologia e vendas (sendo consideradas asset lights), ao invés de maquinário ou imóveis que possam servir de garantias reais.
Esse contraste de realidades constituía a principal dificuldade observada por empresas de tecnologia, quando iam ao banco pedir recursos via dívida. Os credores tradicionais, quando avaliavam todas as empresas com os mesmos parâmetros, se tornavam incapazes de analisar a capacidade de pagamento dessas novas empresas.
Contudo, novos investidores e modalidades têm entrado no mercado nacional, compreendendo o contexto de que essas companhias:
- Têm um potencial imenso de crescimento a ser analisado, quando observadas suas projeções;
- Têm momentos de maior liquidez (mais caixa) para honrar pagamentos quando passam por rodadas de investimento com VCs; e
- As tecnologias criadas (propriedade intelectual), os contratos firmados com clientes (recebíveis), entre outras opções menos óbvias, servem igualmente como garantias a serem utilizadas, no lugar de bens.
Considerando essas questões como base para análise, novos investidores têm aproveitado, então, para realizar empréstimos às empresas de tecnologia, modalidade chamada de Venture Debt.
Venture Builder
As empresas de tecnologia em seu momento mais inicial, por vezes, não precisam de dinheiro exclusivamente. Nesse estágio uma infraestrutura básica de trabalho, contato com mentores, com potenciais clientes, auxílio na validação de produtos e na formalização de processos, tem um valor tão significativo quanto ao que apenas dinheiro poderia oferecer.
Observando essa necessidade surgiram associações e até mesmo grupos empresariais (em busca de tecnologias para seu segmento) que fornecem principalmente a infraestrutura necessária em troca de uma participação nas companhias apoiadas. As Venture Builders tornam-se, então, um ecossistema gerador de inovação em escala.
Joint Venture
No mercado de fusões e aquisições de empresas, a junção de empresas se justifica quando 1+1=3. Duas empresas juntas conseguem valer mais do que quando separadas, devido à aspectos que são chamados de sinergias. Existem situações em que empresas (empresa A e empresa B) observam um novo mercado ou tecnologia a ser explorada em conjunto, porém desejam manter suas marcas principais. Para isso uma das alternativas existentes é a criação de uma terceira empresa (empresa C), cujos sócios são A e B. Essa estrutura que há uma nova empresa sendo criada, com o risco da inovação sendo dividido, chama-se joint venture.
No Brasil, um exemplo relativamente recente de joint venture foi a união da Shell e da Cosan na criação da Raízen, para explorar e inovar o mercado de geração de energia com cana de açúcar.
Quando observamos o mercado de tecnologia e inovação, há um risco inerente no investimento realizado, que definimos pelo termo venture. Àqueles que desejam assumir esse risco e gerar mudanças positivas na sociedade, existem diferentes formatos que podem ser utilizados para se financiar: pela figura de um sócio, um credor, um facilitador ou até mesmo uma coparticipação com outra empresa. Por essa razão, torna-se importante entender a melhor opção para seu objetivo e ter por perto os melhores profissionais para execução do seu plano.