Você está considerando vender a sua empresa, mas está apreensivo sobre o processo de Valuation? Seu negócio pode alcançar um valor justo, mesmo com o uso da “contabilidade criativa”.
Quando se trata de vender o seu negócio, você deve saber que não existe nenhum “patinho feio”, o que significa que o valor de todo negócio pode ser estimado e a empresa vendida de forma apropriada. Isso é verdade mesmo se você recorreu às práticas da “contabilidade criativa”, método onde os contadores utilizam-se de omissões e flexibilidades permitidas – ou não – pelas normas da contabilidade para alterar propositalmente o processo de elaboração das demonstrações contábeis.
Seguir o BRGAAP (Princípios Contábeis Geralmente Aceitos, do inglês, Generally Accepted Accounting Principles) deve sempre ser a sua primeira opção, mas, muitas vezes, as mentes empreendedoras se inclinam em direção à maximização de capital, o que requer o uso da tal “criatividade”.
Existe uma variedade de motivos pelos quais os donos de negócios podem não se interessar em vender suas empresas. Eles podem se sentir incertos sobre o futuro da economia ou das políticas tributárias, ou sobre como estão as taxas de rendimento de suas aplicações. Eles podem se preocupar com o seu legado como empresários, ou ter a sensação de que o momento simplesmente não é o certo. Mas uma das razões mais comuns envolve preocupações com a contabilidade da empresa.
Talvez o empresário diga que prefere esperar mais dois ou três anos antes de vender, para colocar as contas em dia. Talvez haja um sobrinho na folha de pagamento (ou qualquer outro tipo de funcionário não produtivo) que não trabalhe de verdade na empresa, por exemplo, ou a preocupação pode ser com a ideia de que a queda de receita durante a pandemia vá diminuir o valor do negócio.
É recomendado, mas não necessário, ter práticas contábeis e de governança em dia para chegar num Valuation justo para o seu negócio. Um comprador pode, porém, fazer um trabalho de reconstrução e ajuste — para cima ou para baixo — para normalizar quaisquer práticas contábeis indevidas ou períodos atípicos de lucratividade.
A maioria das empresas busca maneiras de minimizar a carga tributária incidente, mas um comprador experiente ou assessor contratado pode realizar uma análise detalhada de suas contas e ajustar o valor do negócio de forma mais precisa, levando em conta um cenário tributário normalizado. Despesas esporádicas ou atípicas podem ser deduzidas do resultado da empresa para um quadro de performance mais preciso, por exemplo, de forma que o valor da empresa permaneça intacto.
É possível realizar uma avaliação do EBITDA para a remoção de grandes anomalias nas contas da empresa. Se um empresário realizou a venda nos últimos meses de 2020, por exemplo, o comprador pode desconsiderar os dois trimestres intermediários daquele ano, quando o negócio estava sofrendo os impactos da pandemia, na hora de fazer o Valuation da empresa. Outra hipótese: talvez esse empresário tivesse algum membro da família recebendo tratamento médico com o plano de saúde empresarial, apesar do envolvimento mínimo dessa pessoa com o negócio. De novo, o processo de normalização das demonstrações financeiras pode ajustar isso.
É importante entender que fundos de Private Equity ou outros compradores não são a Receita Federal ou outros agentes públicos. Eles não estão procurando por motivos para te denunciar. Eles só querem ter certeza de que todos os detalhes serão considerados na hora de estabelecer um valor justo – e isso inclui o levantamento de riscos do ativo.
Tipicamente, compradores não irão esperar que os vendedores lidem com seus próprios problemas fiscais. Mas há uma ressalva: um comprador não pode ajustar os problemas do dinheiro vivo mal administrado. É inaceitável dizer “eu peguei X quantia das vendas, em dinheiro, sem registro”, ou dizer “eu paguei algumas horas extras por fora, em dinheiro”, e esperar que isso faça com que o valor de seu negócio suba. As transações em dinheiro vivo, sem a administração correta, não podem ser checadas ou rastreadas.
Do contrário, não se deixe levar por uma falsa crença de que um empresário precisa de dois ou três anos de finanças perfeitas para maximizar a lucratividade de sua empresa para, só então, obter um valor justo para seus negócios.
Os valores, hoje em dia, são amplamente expressos como uma porcentagem da receita bruta da empresa, substituindo a tradição de múltiplos de EBITDA como balizamento de valores de transação, apesar da geração de caixa ser sim levada em conta no processo negocial.
Qualquer negócio – mesmo aquele com baixas margens EBITDA ou com práticas contábeis desajustadas – pode ter seu preço devidamente estimado e, em última instância, ser vendido.
Esse artigo foi originalmente publicado nos blogs FOCUS Investment Banking e Axial.net