*Por Hillary Omitogun
O setor de Venture Capital (VC) evoluiu para uma das classes de ativos alternativos mais relevantes. Startups apoiadas por VC, como a Coinbase e o Spotify, sacudiram e redefiniram seus setores, e até destronaram gigantes do setor bancário e manufatureiro que há muito tempo eram as empresas mais valiosas em todo o mundo.
Empresas de Venture Capital como a Andreessen Horowitz — conhecida por apoiar essas startups — também se tornaram o centro das atenções. Isso explica por que empresas como a Intuit (gigante do ramo de softwares) e celebridades como Will Smith estão agora participando do ecossistema de investimentos em startups.
VC: um jogo de quem marca mais gols
Apesar da explosão do Venture Capital, ter sucesso no mercado não é tão fácil quanto parece. O VC é frequentemente descrito como um “jogo de quem faz gols, não de quem faz média”. O significado disso é que é a minoria das empresas na carteira de um determinado fundo que criarão a maior parte de seus retornos. Na verdade, um estudo da Correlation Ventures, empresa de Venture Capital, mostrou que quase 70% das rodadas de investimento de VC não retornam nem o valor investido, e menos de 5% retornam mais do que 10 vezes o capital aplicado.
Embora o estudo tenha se concentrado apenas em empreendimentos nos Estados Unidos, ele reflete a realidade dos VCs em todo o mundo. É surpreendente a lacuna entre as empresas de VC com melhor desempenho e aquelas com desempenho mediano.
Os fundos de VC bem-sucedidos quase sempre têm, no mínimo, um investimento que dá um retorno atípico. Para um fundo VC típico com cerca de 20 investimentos, é raro ter um deles retornando o dinheiro investido com bons múltiplos. Como resultado, os VCs devem tratar cada investimento como um potencial “gol” e entender que, embora seja um pensamento contra-intuitivo, investimentos fracassados não importam muito.
Montando um portfólio com a estratégia “Moneyball”
Uma das melhores maneiras de os VCs maximizarem suas chances de encontrar investimentos que possam gerar retornos de grande magnitude é apostando em muitos. Embora a maioria dos fundos de VC tenha uma estratégia de portfólio concentrada — o que significa que eles investem em cerca de 20 a 40 empresas selecionadas — dobrar ou triplicar essa quantidade seria melhor para eles. Essa estratégia é especialmente adequada para VCs de early stage (empresas em estágios iniciais), já que, nesse caso, o risco de começar é sempre maior.
Investidores como Dave McClure, fundador da 500 Startups (uma famosa incubadora de startups), são fortes defensores da estratégia moneyball — expressão vinda do baseball, que, nesse caso, significa investir em mais ativos em favor da probabilidade de um deles ser o que renderá mais. Ou seja: apostar mais para ter mais chances.
Em um artigo de 2016, McClure menciona que mais de 50% dos investimentos da 500 Startups nunca vingam ou chegam a render mais do que o valor investido inicialmente. Ele relata que apenas 15% a 25% desses investimentos têm lucros de duas a cinco vezes o capital injetado, enquanto menos de 15% podem, eventualmente, atingir um valuation de mais de $100 milhões e lucros de dez a vinte vezes o seed money (capital inicial) investido.
Ainda menos empresas — entre 1% e 2% — alcançam um valuation de mais de $1 bilhão e têm retornos extremamente altos, chegando a render cinquenta vezes o dinheiro aplicado. McClure conclui reiterando que é por isso que o portfólio médio de VCs deve ser muito mais alto: de 100 a 200 empresas para fundos de VC de early stage, e de 50 a 100 empresas para fundos de VC de estágios mais avançados.
A estratégia do portfólio concentrado
Aqueles que não gostam da estratégia do portfólio estilo moneyball argumentam que o fator acesso deve ser levado em consideração, pois os VCs não possuem um acesso democratizado aos negócios. VCs bem conhecidos como o Sequoia Capital e o Andreessen Horowitz têm maior probabilidade de conseguir encontrar melhores oportunidades do que VCs novos ou menos renomados. Mesmo que houvesse igualdade de acesso às oportunidades, ter uma estratégia de portfólio dispersa e menos seletiva pode levar a investimentos em startups de menor qualidade.
VCs que preferem uma estratégia de portfólio concentrado são aconselhados a examinar rigorosamente a equipe, o tamanho de mercado endereçável, escalabilidade, clima do mercado e vantagens em potencial antes de investir nos ativos de sua escolha.
Também é importante ter uma estratégia de acompanhamento forte. Quando uma startup apoiada por um VC começa a ganhar força, o VC deve ser capaz de investir mais capital nas rodadas de captação subsequentes desta empresa. Isso permite que o VC dobre e, eventualmente, maximize os seus retornos. Os VCs mais bem-sucedidos costumam garantir que eles tenham dinheiro suficiente reservado para esses momentos.
Como a performance de um VC é medida
Para entender por que os retornos são importantes na indústria de VC, é importante saber como eles são avaliados. Como qualquer outro negócio, as empresas de VC costumam usar certas métricas para entender como seu trabalho funciona e para averiguar o seu sucesso.
Os investimentos em Venture Capital apresentam alto risco, e descobrir quais riscos valem a pena ser correridos é uma tarefa que eles levam a sério. As métricas os ajudam com isso, tornando mais fácil entender qual investimento oferece os melhores retornos. Essas métricas também permitem que os VCs saibam quanto risco podem suportar.
As métricas quantitativas são indiscutivelmente as maneiras mais confiáveis de avaliar os fundos de VC, já que os números não mentem. Mais de cinco tipos de métricas quantitativas diferentes mostram com precisão o desempenho de um VC, mas é importante entender que nenhuma métrica conta toda a história ou pinta uma imagem precisa de um VC. Portanto, a maioria deles combina pelo menos duas métricas quantitativas para chegar a uma conclusão confiável. As métricas mais comumente usadas são Taxa Interna de Retorno (TIR) e Cash on Cash (CoC).
Taxa Interna de Retorno (TIR)
Esta métrica avalia o desempenho dos investimentos individuais ilíquidos em um fundo de risco, além do desempenho geral dele. Ela mostra a quantidade de dinheiro que um fundo consegue em retorno durante um determinado prazo, calculando, inclusive, as taxas de retorno anuais do fundo.
A TIR é considerada “confusa” de se calcular porque há pelo menos três maneiras de chegar ao seu valor, sendo o método mais fácil a utilização da função TIR em programas de planilha como o Excel.
A TIR de um fundo de VC depende muito de seu estágio; No entanto, a TIR média em muitos VCs varia entre 12% e 25%. Existem, porém, várias desvantagens na TIR, já que a métrica não leva em consideração os riscos associados a reinvestimentos ou a capital redistribuído em oportunidades de investimento relacionadas.
Cash on Cash (CoC)
É a quantidade de dinheiro que um investidor recebe depois que uma empresa do portfólio passa por um exit (venda total), dividida pelo valor que ele inicialmente investiu na empresa.
O retorno de CoC, geralmente, é expresso como um múltiplo: 200x, 480x o valor injetado inicialmente e assim por diante. Por exemplo, pode-se dizer que Steve Anderson ganhou 480X (48.000%) do capital investido quando o Instagram foi comprado, já que o investimento inicial foi de 250.000 dólares e sua participação após a aquisição do Instagram era de $ 120 milhões.
Um retorno de CoC também pode ser apresentado como um múltiplo de um fundo de investimento. Por exemplo, se um fundo de VC de $ 150 milhões consegue um retorno de $ 600 milhões, o múltiplo para esse fundo pode ser expresso como um “retorno de 4x em CoC”. É importante se lembrar de que para que um retorno de CoC seja calculado com precisão, um exit deve ter ocorrido.
Outras métricas de desempenho de fundos de VC incluem Múltiplo de Preço de Compra (TVPI, do inglês, total value to paid-in capital), Múltiplo sobre Capital Investido (MOIC) e Distribuições por Capital Integralizado (DPI).
Conclusão
Em resumo, os investimentos em VC envolvem mais riscos do que a maioria das classes de ativos e seus retornos não são tão altos quanto normalmente poderia se pensar. Os retornos de VC são distribuídos de uma forma altamente distorcida e desigual. Isso significa que apenas alguns poucos investimentos muito importantes geram a maior parte dos retornos de um fundo. A escola de pensamento Moneyball afirma que os fundos de capital de risco deveriam, idealmente, ter um tamanho de portfólio entre 50 e mais de 100 ativos para ter uma chance maior de capturar um unicórnio. No entanto, essa estratégia leva à reflexão sobre a proporção entre o tamanho e a qualidade do portfólio.
Por fim, o desempenho do VC é avaliado, basicamente, por meio de métricas quantitativas como TIR, CoC, TVPI, MOIC e DPI.
*Texto publicado originalmente em Equity DAO